sábado, dezembro 30, 2006
Ano novo, vida nova
Ao contrário deste post, 2006 foi um ano em grande.
Mudei de cidade, de hospitais, de colegas.
Agora é altura de partir outra vez.
Para uma nova cidade, para um hospital novo e com colegas novos.
Embutida num sentido de nostalgia, não me quero alongar.
'Amanhã' será para celebrar o que há-de vir;
'Hoje' é para recordar os que, embora cá fiquem, vão comigo na bagagem e no...coração.
Só queria deixar algumas palavras de agradecimento:
-Para a minha família e namorado, pela paciência infindável. E por estarem lá.
-Para os meus dois grandes amigos de adolescência, S. e C., isentos às minhas preocupações de médica, por nunca terem desaparecido.Porque um médico que só sabe de medicina, nem médico é.
-Para a minha interna de fisiatria preferida, S., que conheci numa manhã numa esquina de um dos longínquos corredores do hospital. Pela companhia, pela amizade, pela cumplicidade. Pela força nos tempos amargos, pela partilha dos tempos doces.
-Para a minha tutora preferida, Dra D, pelos conselhos sábios, pela paciência, pela protecção, pela disponibilidade.E pela amizade. E amizade não tem idades, pois não?
-Para TODOS VÓS, leitores anónimos, confidentes de longa data, que passam diarimente no O.N.R., o meu OBRIGADO.
São vocês que ainda me fazem acreditar que é possível mudar, que é possível reanimar um sistema quase em fase terminal.
FELIZ ANO NOVO 2007
Com muita Saúde...
muita Paz...
& Alegria...
e claro,Sucesso!
quarta-feira, dezembro 27, 2006
O último fôlego
Cada minuto que passa é demasiado precioso para ser vivido, ao invés de ser escrito.
Mais um Natal passou.
Mais uma noite de 23 passada com os amigos de longa data, mais uma noite de Consoada com todos os meus entes queridos, mais um almoço de Natal recheado de iguarias reflectindo a bonança e plenitude do ano que passou.
E mais uma urgência, desta feita a 26, caótica como todos os dias pós-feriados longos.
A última urgência de medicina.
A última.
E são assim os dias que passam e fogem de nós.
Quase nem damos conta.
O rosto dá. O corpo também.
Apresso-me.
Vou ter com uma colega da bata branca ao local do costume, daquelas colegas que o tempo tranformou em amizade sólida, tão sólida como os pilares sustentam, há decadas, o hospital que amanhã deixo.
sábado, dezembro 23, 2006
Ode ao Dr. Riccio
Faleceu Pier-Giorgio Welby, o italiano que desde 1997 viu o seu destino prisioneiro de uma distrofia muscular, o que se traduzia por uma crescente paralisia dos músculos, ser alimentado por um tubo, estar dependente de um ventilador para poder respirar e comunicar através de um sintetizador de voz, tratamento que recusava e que o próprio considerava motivo mais que suficiente para colocar um ponto final na vida.
Tinha 60 anos e tinha requisitado uma autorização judicial para que o livrassem desta «tortura», isto é, para que fosse sedado e depois ser retirado o ventilador ao qual estava ligado dia e noite. Ter um fim humano, digno e indolor.
Os tribunais não o libertaram deste inferno. Rejeitaram o seu pedido.
O médico anestesista Mario Riccio fê-lo. Ele confessou ter desligado o ventilador após sedar o donte. Pier-Giorgio Welby teve o fim indolor que sempre desejou.Agora o médico que cumpriu com a vontade expressa do doente é procurado pelas autoridades.
segunda-feira, dezembro 18, 2006
A Vida, um Tumor da face e as Vacas...
Não porque tivesse escolhido radiologia, mas sim porque há situações que merecem ser digeridas e esquecidas.
Como o dia de urgência da semana anterior. Foi uma 6f.
Não, nem não tocou a campainha da reanimação...
Em compensação e, à boleia do rebuliço natalício, houve (mais) uma enchente na urgência.
Parecia um dilúvio de gente. Nós eramos a Arca de Noé.
Houve um caso que me fez parar para pensar. Refletir.
Chamei a Sra Tolentina (nome fictício) por volta das 11h da manhã. Vinha enviada de um CS de uma terriola no interior, com uma carta a dizer: «Doente sexo feminino, 52 anos, com antecedentes de neoplasia do seio maxilar direito, sujeita a cirurgia paliativa, com alta do serviço de ORL a.... Hoje queixa-se de recusa alimentar e vómitos...»
-Um tumor da face..!? Life's a bitch!! -pensei eu.
Confesso que me custou levantar os olhos daquela carta e colocá-los na face da Sra Tolentina. Não por laxidão, mas por cobardia.
Respirei fundo.
A Sra Tolentina, em maca, vinha acompanhada por uma irmã, de cabelos negros grisalhos e com uns óculos garrafais sustentados por umas ansas de fita adesiva.
Sorri.
Tentei esboçar o mais gigantesco dos sorrisos naquele ínfimo estado de alma.
Falei com ela. E com a irmã. Observei-a. Pedi análises, exames (valeria a pena pedir TC-CE outra vez? Fi-lo, que se lixassem as contas da urgência...), prescrevi terapêutica.
Analgesiei. Analgesiei muito. Sabia que nenhuma droga podia inverter aquela triste sina, mas a dor tinha obrigatoriamente que ser abolida. Isso sim era um pequeno milagre.
Olhei para a escala para ver quem era o colega de ORL de serviço, mas isso ainda atenuou ainda mais as minhas esperanças.
Aguardei.
Naquela confusão, a doente ficou a um canto. A irmã também. Ainda lhe expliquei que os exames iam demorar e que ela poderia dar uma volta se lhe aptecesse.
Ela respondeu: «-Não Sra Dra, não conheço a cidade...» Preferia ficar ali. E não queria deixar a irmã sozinha.
Sorri e dei-lhe uma palmadinha nas costas.
As horas passaram. O dilúvio de doentes continuou.
Nesse dilúvio, e como por milagre, também entra na urgência uma colega de ORL porreira que, por coincidência, conhecia bem a doente. Agarrei-a como se fosse a último homem à face da Terra.
A colega, simpatiquíssima como sempre, com compaixão da Sra Tolentina, disse para eu avançar com o boletim de internamento, sob a sua responsabilidade. «-Ao menos que tenha um fim digno...» -disse ela.
Pouco depois, chegam as análises e os exames. Finalmente.
Preenchi o boletim de internamento à pressa e entreguei a uma enfermeira.
Falei com a irmã e disse que ela ia ficar internada.
Ela ficou satisfeita mas logo depois mostrou uma ruga de preocupação....Olhou para o relógio que marcava vagarosamente as horas a passar nas urgências e disse:
-É pena. Acabei de perder o último autocarro que ia para a aldeia.
-Não tem ninguém que a posso vir buscar? -perguntei eu.
-Não. Eu vivo sozinha com a minha irmã, e só tenho os bichos por companhia.... Vou ter que pagar um táxi....
....
Não tive coragem para dizer nada. Um táxi para a sua aldeia significaria todo o dinheiro da reforma daquele mês. E estavamos em Dezembro.
Fui para a sala dos médicos.
Encontrei um colega e contei-lhe o episódio. Perguntei-lhe ele achava muito errado que eu chamasse uma ambulância para a acompanhante daquela doente que ia ficar internada. Ele disse que compreendia, mas que eu não podia fazer semelhante coisa. Era ilegal.
Ele sugeriu que ela ficasse a dormir discretamente no hospital, numa banquinho à porta...
Fui ter com a irmã da Sra Tolentina. Contei-lhe o teor da conversa com o meu colega.
-«Obrigado, mas não posso ficar. Tenho que ir para casa. Tenho um palheiro com bichos e eles precisam de mim....As minhas vaquinhas, as minhas cabrinhas... Não posso ficar....» -respondeu.
Regressei à sala dos médicos. Sentei-me. Levei as mãos à cara e senti as lágrimas as escorrerem-me na face. Limpei com o interior da bata.
O meu colega sorriu para mim.
Agora era ele que me dava uma palmadinha nas costas.
Ainda pensei em dar-lhe boleia na minha hora de saída, mas por azar naquele dia tinha prometido levar um colega a casa. Não podia faltar à promessa.
E lembrava-me de me terem aconselhado a manter sempre a frieza e nunca abrir precedentes na urgência.
Preguiça e receio, talvez um pouco.
Levantei-me. Olhei para o meu relógio.
-Ainda bem que escolhi radiologia, pensei.
domingo, dezembro 17, 2006
Welcome back
Este era um blog que eu acompanhava quase diariamente até o dia que parou no tempo com um post chamado 'pleasure seekers'.
Sem aviso prévio nem post de despedida. Apenas com flocos de neve.
Eu também nunca gostei de despedidas.
Voltou, está perdoado.
Welcome back (to where you once belonged).
sábado, dezembro 16, 2006
quarta-feira, dezembro 13, 2006
De partida.
Os últimos dias de estetoscópio ao pescoço como se fosse uma circular cervical do cordão. As últimas visitas aos doentes internados no serviço.
Frases repetidas que parecem desculpas: -'Sim, optei por radiologia. Sim, eu sei...' -'Sim, estou de partida...'. São tantas as coisas para fazer.
Ver os últimos doentes. Preencher os últimos diários clínicos, ponderar as últimas altas.
Os últimos delegados de informação médica.
Despedir dos colegas que ficam. E dos outros colegas que o tempo transformou em amigos sólidos.
'-Sim, vou ter saudades...' -'Mas vens visitar-me....'
O último medulograma.
As últimas quezílias para ver quem fica escalado de urgência na equipa de medicina nos dias festivos.
Ano novo. Cidade nova. Vida nova.
segunda-feira, dezembro 11, 2006
Esquecimento de mau gosto...
Aonde estão disponibilizadas as vagas sobrantes?? Concerteza, não é online.... Nem offline!
A escolha, para muitos colegas, não terminou hoje....Ainda nem começou.
E estamos a lidar com decisões que afectam o resto das vidas de muitos colegas.
Já está!

Pois é.
Nada na vida é fácil.
Depois de muito pensar (e re-pensar, pensar novamente e mais uma vez pensar porque ainda não tinha pensado o suficiente...), ponderar todos os 'prós' e os 'contras', optei por escolher a especialidade que mais aliava a razão ao coração.
Num minuto apenas.
O tempo suficiente para balbuciar umas palavras e aguardar um fax confirmatório.
Escolhi... ser radiologista para o resto da minha vida!
domingo, dezembro 10, 2006
sábado, dezembro 09, 2006
Excedentários da FP
Liguei o telemóvel. Nada de interessante.
Li o diário. Nada de novo.
Cedi à tentação de ligar a TV. Um zapping rápido. As fofocas e as personagens de sempre (ena, já chateia! Será que alguém ainda pode com isto??). Desligo.
Portátil. Socorre sempre estes momentos de amargura. Naveguei a minha lista de favoritos, li os blogues do costume, reli as notícias do.... ahhhh o quê??? Deparo-me com um cabeçalho que me deixa atónita (mais atónita do que já sou aos sábados de manhã): 196 vagas de especialidade para 600 candidatos inscritos no IM2007-B!!
Mmm. Faço uma pausa. Uma dupla pausa.
Primeiro, para (mais uma vez) concluir que estas reformas da Sáude deixam-me completamente baralhada- Internato Médico A? B? C, porventura?
Respiro fundo.
Segundo e, (ignorando a alfabetização dos internatos) num apelo à minha rudimentar capacidade matemática, faço um esforço de pensamento. Pergunto-me: Será que alguém vai ficar de fora??
Vida de jovem médico não está fácil. Não, não está.
ps: e sim, certifiquei-me que a categoria profissinal em causa era 'médicos' e não 'professores'.
sexta-feira, dezembro 08, 2006
Outros blogs -O melhor post da semana
Pode haver quem se esteja a preparar para fechar esta página adivinhando que este é apenas mais um post de gosto duvidoso. Nem pense nisso! Este é, sem sombra de dúvidas, um post de muito mau gosto. Portanto, motivo mais do que suficiente para continuar a lê-lo.
Introdução: Importa passar a seguinte mensagem: nunca se sujeite a uma sanita de um local público a não ser que seja absolutamente vital. Exactamente por isso, ter de recorrer a elas para fazer necessidades fisiológicas de natureza sólida, tem sido das maiores contrariedades que tenho enfrentado em toda a minha existência. “Fazer ou não fazer? Eis a questão”. A minha resposta seria perpetuamente “Não!” mas o meu organismo parece ter sempre uma opinião contrária.
Por outras palavras, ainda não se sabia o que era um bífido activo e já eu tinha os intestinos bem regulados. Tão regulados que entram sempre em funcionamento imediatamente a seguir ao almoço e deixam bem claro que não podem esperar. Acontece que durante a tarde estou muitas vezes fora de casa. Daí que, o produto da equação (somatório da Incontornável Vontade me Aliviar, a dividir pela Falta de Alternativas Viáveis), seja sempre o mesmo. Como se pode verificar pelo seguinte esquema matemático:
Σ ( Incontornável Vontade me Aliviar ) = WC HOMENS
Mas deixemo-nos destes complexos enunciados e vamos passar sem mais delongas à parte prática que a todos interessa. A minha vasta experiência em casas de banho públicas permitiu-me extrair 2 corolários a fixar: 1) Nunca se sente sobre o tampo da sanita; 2) Nunca “solte os prisioneiros” sem antes se certificar que está sozinho na casa de banho (se isto não for de todo possível, escolha o timing certo: aproveite o momento em que alguém accionar a máquina de secar as mãos para abafar o som da “libertação”).
Agora que entramos numa época de fraternidade não posso deixar passar a oportunidade de ajudar o próximo com algum do conhecimento empírico que tenho adquirido. Compilei então, para vós, um conjunto de Cinco Técnicas que facilitarão a vida a quem necessitar forçosamente de se valer de uma sanita pública. A escolha é vossa, mediante as características individuais de cada um.
Técnica do Caçador: Também conhecida como Técnica do Homem Primitivo, esta técnica nasceu praticamente com o primeiro Homem. Recordemos que naqueles tempos primordiais não havia sanitas nem sequer ambientalistas, pelo que, o mundo era um lugar feliz e uma gigantesca e arejada casa de banho. Mais tarde, esta técnica viria a ser adaptada por – lá está – caçadores, que ao passarem muito tempo na mata se viam forçados a agacharem-se (primeiro atrás das sebes - até perceberem que havia silvas por ali - e mais tarde junto a árvores, imitando assim os seus perdigueiros). A estratégia de agachamento é a mesma mas devem lembrar-se que terão uma sanita por baixo.
Vantagem: Em nenhum momento o seu rabo entra em contacto directo com a sanita.
Desvantagem: No momento em que se encontrar a executar esta manobra não puderá deixar de se sentir um idiota. A percepção da idiotice piora ou melhora consoante o(a) interveniente tiver uma maior ou menor noção do ridículo.
Técnica de Windsurf: Técnica bastante utilizada por desportistas que não perdem uma ocasião para se exercitar. Consiste em agarrar na maçaneta da porta, colocar os pés na parede e flectir o corpo para trás.
Vantagem: Não estará realmente a praticar windsurf pelo que não será indispensável que haja vento; Se a porta não tiver fechadura ou trinco, como ocorre tantas vezes, com esta técnica estará a salvo da entrada de estranhos ao serviço.
Desvantagem: Método que apenas é possível de concretizar em casas de banho bastante apertadas e em que a sanita esteja a escassa distância da porta.
Técnica do Papel Higiénico: Como o próprio nome indica, consiste em forrar com papel higiénico, e com o maior número de camadas possível, todo o tampo da sanita. Atenção: apesar das compreensíveis preocupações com a cobertura de toda área envolvente do tampo, nunca se esqueça que terá de fazer muito bem as contas ao papel de forma a assegurar que lhe sobre o suficiente para a segunda metade da missão…
Vantagens: Este método é especialmente indicado para as situações que se afigurarem mais demoradas. O facto do utilizador se sentar permitir-lhe-á maior comodidade e em consequência pode aproveitar o esse tempo morto para ler a Dica da Semana, o folheto da feira dos enchidos ou até mesmo para escrever poesia erótica na porta do WC.
Desvantagens: Dada a natureza escorregadia do tampo da sanita, o papel pode muito bem deslizar para o chão deixando-o exposto a um número considerável de bactérias de terceiros. Além do mais, esta é a técnica mais dispendiosa. Pelo menos para os proprietários do espaço que estão a usar. Levar a cabo uma operação desta envergadura é coisa para custar um rolo inteiro…
Técnica do Poleiro: É a mais acrobática de todas. Levante a tampa, suba para cima da sanita, coloque os pés no sentido da porta e baixe-se o mais que puder.
Vantagens: Como estará posicionado a uma altitude considerável, o "mergulhador" pudera cair directamente na água provocando no reu rabo desagradáveis salpicos com água fria.
Desvantagens: O perigo que representa para a sua integridade física. É aquele que eu chamo o modelo de “Flexigurança”: para o executar é necessário alguma flexibilidade, equilíbrio e muito pouca consciência do que é estar em segurança.
Técnica do Baloiço: Consiste em colocar as mãos entre o tampo e a as pernas de modo a formar um banco unipessoal e intransmissível sobre a sanita. Esta técnica nunca foi testada por mim mas tive acesso a relatos de pessoas que me garantiram não quererem mais nenhuma. Não se preocupem, certificar-me-ei pessoalmente de que essa gente receba a sua medicação revista e aumentada…»
Post publicado no Blog do Bidé do Gervásio.
Um verdadeiro manual no combate à transmissão de doenças sanitariamente transmissíveis. Uma ferramenta imprescindível a qualquer delegado de saúde que se preze.
quinta-feira, dezembro 07, 2006
O novo filme de Sofia Coppola

Já vi a nova película da Sofia Coppola, Marie Antoinette.
Não é excelente, mas é óptima.
Retrata de forma sui generis (quase um déja vu de Lost in Translation) a jovem austríaca que, sozinha, sem orientação e perdida na riqueza da atmosfera isolada de Versalhes, se torna a monarca mais incompreendida e extravagante da França. Quem se apresentava inicialmente como a 'salvadora' do povo, tornou-se a sua principal presa, justificado pela sua insensibilidade traduzida em frases míticas como: -'Se não há pão, comam bolos!'
Vale a pena ver.
terça-feira, dezembro 05, 2006
Destino, para onde me levas?...

Somos chamados a optar por algo que pode mudar a nossa vida. A decidir um rumo. A escolher um caminho.
Segunda-feira, dia 11, eu faço a escolha da minha vida. A ESCOLHA.
Escolho não apenas a especialidade, mas também o local onde vou provavelmente passar o resto da minha vida. Certezas, zero.
A escolha não seria tão complexa se eu não me dividisse entre dois caminhos completamente opostos e distintos, como a noite e o dia: uma especialidade trabalhosa, menos prestigiada, numa cidade pacata com qualidade de vida OU uma especialidade leve, de qualidade, numa grande cidade, com todo o seu frenesim e solidão, e que me proporcione outros vôos? O amor à bata ou o amor a mim própria? O coração ou a ambição? Não arriscar ou arriscar?
José Mourinho disse uma vez que uma grande decisão se faz em apenas 1 minuto.
Eu, pelo contrário, estou a demorar uma vida....
domingo, dezembro 03, 2006
São 16h07m da tarde...
Devem os médicos de família realizar urgências hospitalares??
«Trabalho dos médicos de família nas urgências |
Opiniões dividem-se |
Os especialistas em Medicina Geral e Familiar (MGF) devem ou não trabalhar nas urgências hospitalares? (...). A participação dos médicos de MGF nas equipas de urgência é uma prática mais ou menos comum em alguns hospitais do País. Contudo, entre os médicos, as opiniões dividem-se quanto ao acerto de uma prática em que clínicos especializados para os cuidados de primeira linha exerçam em ambiente hospitalar. A discussão não é nova, mas numa altura em que são conhecidas soluções no mínimo originais, como o recurso a «tarefeiros» ou a jovens médicos em formação, para colmatar a falta de médicos nas urgências, vale a pena debater o assunto. José Manuel Silva, presidente do Conselho Regional do Centro (CRC) da Ordem dos Médicos, defende que a formação e experiência dos especialistas em MGF pode ser útil na urgência geral O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Carlos Arroz, alega que tal não faz parte do «conteúdo funcional» daquela carreira, vocacionada para os cuidados de saúde primários. |
se dividem, mas
tendem a condenar a prática, sobretudo se esta vier a ser obrigatória.»
A minha opinião é muito simples, sem qualquer atenuante complexo a interferir:
Concordo que as urgências hospitalares à priori não fazem parte do 'conteúdo funcional' da carreira da MGF, mas estes colegas deverão voluntariamente poder participar nas urgências hospitalares, caso assim o entendam (e caso haja necessidade de reforços humanos nas equipas médicas hospitalares).
Aliás, estes colegas podem ter extrema utilidade no atendimento dos casos de menor gravidade médica, os chamados 'verdes' e 'azuis' da Triagem de Manchester, que 99,9% das vezes são casos de 'consulta'.
Obrigatoriedade de participação nas urgências hospitalres NUNCA, apenas no internato complementar da especialidade.
sábado, dezembro 02, 2006
Simples, não é?

Li uma frase do jornalista Carlos Daniel, na rubrica «Os meus medos» da revista Sábado, que traduz de forma tão simplista quanto real, a minha forma de encarar as pessoas 'angélicas' com quem me cruzo diariamente:
«Tenho muito medo das pessoas com óptimo feitio, que nunca se exaltam e que têm boa relação com toda a gente.
Têm de certeza um grande defeito.
E pior, está escondido.»
Não podia estar mais de acordo.
Sempre detestei gatas borralheiras.
Sempre detestei os amigos perfeitos, que nunca discutem e que dizem que sim a tudo.
Pior ainda, os coleguinhas-que-dizem-que-sim-a-tudo e que são os predilectos do chefe, e mal tiramos a bata, espetam-nos com o bisturi que tiver mais a mão.
Basta.
Problema com o Internet Explorer
O problema está a tentar ser reparado.
Pedimos desculpa pelo incómodo.
quarta-feira, novembro 29, 2006
E no meio da Catástrofe, uma pequena Catástrofe...
..hoje, o day after pós-simulacro, cheguei ao hospital e vi um colega mais velho triste e cabisbaixo. Nada me prenderia a atenção mais do que o tempo suficiente para dizer 'bom dia' e continuar a ver os meus doentes. Contudo, ele é um daqueles colegas raros que para além de bom profissional e bom colega, é também um ser humano fantástico, em que nenhum doente lhe aponta o dedo. (Aliás, se ele fosse um hotel, viria escrito um meritoso 'excepcional' e '6 estrelas' ao lado....)
Parei e sentei-me ao seu lado. Peguntei o que se passava.
Em jeito de desabafo, ele contou:
-No meio da balbúrdia do simulacro, o bloco de consultas (onde geralmente os doentes triados a verde (pouco urgentes) são observados, com um intervalo máximo normal de 120min) entopiu. Para além dos verdes, excepcionalmente também se acumularam alguns amarelos.
Uma pilha de fichas acumulou-se em cima das boxes de consulta ( e esboçou gestualmente uns 10 cm de dedos...) A primeira ficha pertencia a uma rapariga de 17 anos, uma doente com trissomia 21 que vinha hoje ao S.U. por dor de dentes, acompanhada pela mãe... Chamava-se Maria (nome fícticio). Uma dor de dentes, imagina! Não sou dentista e chamar o estomatologista de prevenção é uma tarefa mais difícil que encontrar uma agulha num palheiro... (continuou a descrição:) Perguntei-lhe se tinha ouvido os apelos na rádio para recorrer aos centros de saúde dadas as circunstâncias de simulacro.... Ela peremptoriamente disse que sim, mas que isso não a impediu de vir ao hospital. A filha tinha dor de dentes (o colega respirou fundo...) Ao ouvir aquilo, mandei-a embora para os centros de saúde, sem lhe fazer nem prescrever qualquer tipo de medicação analgésica.... E continuei a olhar para a pilha de fichas 'reais' que se acumulavam durante o simulacro.... Arrependi-me, ainda saí atrás delas, mas elas já iam longe em direcção ao centro de saúde....
Já fiz muitas coisas boas pelas pessoas na urgência, mas ontem fiz uma coisa má e não se sai da cabeça....
-Não te preocupes -disse eu. - Tenho a certeza que ela foi bem atendida no centro de saúde. E tu, és o melhor médico do mundo. Todos nós temos dias 'menos reais'....
Catástrofe

Foi simulada uma queda de avião inglês com cerca de uma centena de feridos, com intuito principal de testar os planos de evacuação pré-hospitalar numa situação de catástrofe, testando as capacidades das diversas forças operacionais e de intervenção, quer civis quer militares, mas também (e já agora, e porque não?) a actuação intra-hospitalar neste tipo de emergência.
(e aqui lanço uma interrogação: onde está o o plano de actuação intra-hospitalar numa situação de catástrofe?? Sinceramente, nunca o vi....)
Muito sumariamente:
Ás 10h20m ligaram para o hospital e deram o alarme de situação catástrofe -uma queda de uma avião com 149 feridos (caso a memória não falhe).
...
Enquanto paralelamente decorria o pré-hospitalar (e com os olhares populares curiosos a atrapalhar como se tratasse de uma situação real), houve uma evacuação imediata dos doentes 'reais' da urgência do hospital para outros locais/pisos do edifício, de maneira a ter espaço(s) apropriado(s) à recepção de doentes feridos em larga escala. Os que saíram ilesos, foram levados para locais de acolhimento, onde receberam apoio psicológico.
Accionaram-se meios, cortou-se as chamadas de carácter não emergente para o hospital, mobilizou-se pessoal de saúde, equipou-se esses locais com equipamento adequado, registaram-se os tempos de actuação.
Alertas na rádio para a população que necessitasse de cuidados de saúde se dirigir aos centros de saúde da zona, que excepcionalmente, se encontrariam abertos até mais tarde.
...
Cronometrou-se e esperou-se. Todos nós vivíamos cada segundo que passava como se fosse o último. O relógio não parava e havia mil e uma coisas a preparar antes da chegada dos 'feridos'. Faltava sempre alguma coisa, um pormenor que ficara esquecido com os planos de emergência no fundo de uma gaveta...
...
Finalmente chegavam os feridos em bolús.
Os feridos mais graves (que contrariamente o esperado numa situação de catástrofe foram os primeiros a chegar...) foram transportados de helicóptero para o aeroporto e depois, de ambulância para o hospital, antecedidos por equipas de batedores da polícia e sirenes estridentes.
Os jornalistas, os representantes das embaixadas estrangeiras e os curiosos colocaram-se estrategicamente à entrada do hospital (do lado de fora). E o gabinete de triagem também (do lado de dentro).
A triagem secundária, executada num ápice, visava apenas a probabilidade de sobrevivência, e não a gravidade da situação como rotineiramente ocorre (pois é, aqui não interessava se se tratava de uma grávida, idoso, adulto ou criança!! A probabilidade de sobrevida era o único factor a considerar...).
Os doentes triados a vermelho e amarelo foram rapidamente conduzidos às respectivas salas, onde uma equipa de médicos e enfermeiros pré-designados os aguardavam. Ninguém saía do seu perímetro de actuação.
...
Fiquei colocada nos amarelos, onde pude dar (e colaborar na) assistência a alguns 'doentes', maioritariamente de carácter ortopédico-cirúrgico, o mais grave dos quais um T.V.M. -traumatismo vertebro-medular.
Interrogatório breve e capacidade de síntese (o crónometro não parava). Os 'feridos' vinham de maca, 'ensanguentados', com o vestuário rasgado e com um texto bem ensaiado pronto a debitar... Como se tudo fosse real...
...
O kit de triagem trazia já folhas de imagiologia, patologia clínica (hemograma, bioquímica), imunohemoterapia e tubos de colheita. (Obviamente as colheitas foram simuladas e amostras vazias enviadas ao laboratório; o mesmo ocorreu na imagiologia).
Não havia tempo a perder... Registaram-se os tempos.
...
Até que, ás 16htal, o período de crise foi dado por terminado...
Uff, respirou-se de alívio.
...
Foi sem dúvida um bom ensaio, pensado ao milímetro (pronto, ao centímetro.) Senti-me satisfeita por poder participar num simulacro 'tão real' de uma possível situação de catástrofe, situações-tão-raras-mas-que- podem-acontecer-a- qualquer-instante-mas-que-ninguém-quer-que-ocorra- no-seu-dia-de-urgência...
A determinada altura confesso que fiquei um bocado confusa e atordoada ao tentar destrinçar os doentes 'reais' e os 'não-reais'... (isto apesar dos apelos insistentes à população geral para se dirigir aos centros de saúde caso necessitasse de suporte assistencial, o que não foi cumprido por muitos doentes... Ora ora, suprise surprise...)
É porque, mesmo em simulacros, não se pode descuidar os doentes reais....
Um descuido pode conduzir a uma catástrofe... Das grandes.
terça-feira, novembro 28, 2006
Novo dia, nova urgência... de Catástrofe!
Houve um simulacro de uma situação de catástrofe (a queda de um avião airbus), e tivemos que accionar o plano intra-hospitalar de emergência (sim aquele que todos nós sabemos que existe mas ninguém nunca viu... E não estou a falar de Deus!)
Tou exausta.
Amanhã conto tudo.
domingo, novembro 26, 2006
Relembrando outros desabafos...
Hoje os tempos são outros, o exame de especialidade está feito, o Desabafos de um Médico foi extinto (com muita pena minha) e eu própria lançei-me na blogosfera com o O.N.R. .
Para o J.C., seu autor anónimo, o meu Obrigado pela companhia.
Deixo-vos um post que fala da reanimação (ou da sua ausência), precisamente o tema do O.N.R. (Ordem para Não Reanimar) -[para os mais desatentos, O.N.R é simplificadamente, uma notinha que os médicos deixam rabiscado a letras bem grandes no processo clínico de alguns doentes com estado mais precário e/ou que não se preveja nenhum tipo de qualidade de vida pós-ressuscitação, no sentido de não realizar medidas de reanimação em caso de paragem cardiorespiratória].
Vale a pena ler.
«A primeira reanimação em que participei como membro activo foi no 5º ano da faculdade. Desde o 4º ano que fazia bancos (voluntariamente, claro) com uma equipa de Medicina Interna no H. Sta Maria com alguma regularidade (...). Tinha assistido já à entrada de vários directos (doentes emergentes que entram directamente para a sala de reanimação), mas o meu papel tinha-se resumido a encolher-me num cantinho da sala para não incomodar. Um desses dias, estava eu na Sala de Observação (SO) a ver doentes, quando toca a campainha dos directos. Todos largámos o que estávamos a fazer e dirigimo-nos para a sala de directos. Toda a equipa (médicos, enfermeiros e auxiliares) preparou rapidamente a sala para a chegada do doente. Nem um minuto depois entra um homem enorme e obeso de maca, com a face arroxeada, em paragem cardiorrespiratória. Em três tempos foi colocado na mesa de reanimação, os enfermeiros canalizaram veias periféricas, foram colocados eléctrodos para avaliar o tipo de ritmo cardíaco e os parâmetros vitais foram observados pelos médicos. Eu, escondido no meu cantinho para não atrapalhar a dezena de pessoas que se agitava em torno do corpo, prestava atenção a todos os detalhes. O doente estava em assistolia (termo científico para a linha plana no electrocardiograma), o que não representava bom prognóstico (seria bem mais fácil reverter uma fibrilhação ventricular com um choque...). Um dos médicos, por sinal um médico muito alto e forte, começou a fazer massagem cardíaca, enquanto os outros administravam fármacos adequados e tentavam intubar o doente (colocar um tubo da boca até às vias respiratórias para facilitar a ventilação). O tempo passava, e nem a assistolia desaparecia nem conseguiam intubar o doente, que devido à sua obesidade era bastante difícil. Chamou-se a Anestesiologia (com grande prática de intubação) para tentar intubar, que em poucos segundos se pôs na sala de reanimação. E foi com a chegada da anestesista que eu, no meu cantinho, fui acossado para agir: o médico que estava a fazer massagem cardíaca apontou para mim e disse "Tu! J.! Vem para aqui, estou cansado!". Imediatamente desatei a suar profusamente, o meu coração começou a galopar e disse "E-eu?!". Mas não tive tempo para hesitações, num instante estava a substitui-lo e a fazer massagem cardíaca. O começo foi atribulado: a maca era altíssima, eu não, e precisei de um estrado para fazer massagem cardíaca de forma adequada. Na minha cabeça revia os passos que tinha aprendido com "os bonecos" para fazer tudo correctamente. Coloco as mãos em cima do esterno do doente e faço a primeira compressão: senti imediatamente dois ou três "crack!" debaixo das minhas mãos... Lembrei-me da frase proferida pela instrutora das aulas de reanimação: "com força suficiente para ser eficaz, mas de preferência sem partir costelas!". Se já estava suado, mais fiquei, e moderei a força das compressões seguintes. Entretanto a anestesista tentava intubar o doente, mas até ela estava com uma dificuldade imensa. Quando finalmente parecia intubado, começei a sentir algo estranho. Estava com mais dificuldade em fazer as compressões: parecia que o abdómen estava cada vez mais volumoso... "Está no estômago, o ar está a entrar para o estômago!", disse. A anestesista correu para o doente novamente, e confirmou, descomprimindo o ar no interior do estômago, que de facto a intubação não tinha sido eficaz. Voltou a tentar, e finalmente conseguiu. Entretanto passavam-se talvez três ou quatro minutos desde que eu tinha começado a massagem cardíaca (ou seria um ou dois?!?), e os meus braços estavam absolutamente entorpecidos, as costas doíam-me como se eu tivesse 90 anos, a minha camisa estava encharcada, e o meu coração galopava como se não houvesse amanhã... O coração do doente é que não parecia seguir o exemplo do meu... Algum tempo depois, bastantes fármacos depois, e uma substituição iminente (eu estava quase a morrer ali também), o coração do doente pareceu responder. Todos me gritaram: "pára!", porque a massagem interfere com o electrocardiograma, e quando parei confirmámos o que parecia: tinhamos tido sucesso! O coração batia por si! Desci do estrado, e fui com alguns dos outros de volta para o SO, descansar um pouco, com um sorriso nos lábios. Apercebi-me então que era o único com um sorriso nos lábios... Perguntei porquê, e rapidamente percebi: todo o tempo decorrido, acrescido da deficiente ventilação, tornavam muito prováveis a irreversibilidade dos danos cerebrais. Ou seja, provavelmente aquela reanimação resultaria numa permanente "ligação à máquina"... Pouco depois, e afinal para nosso alívio, disseram-nos que o doente não tinha resistido, acabando mesmo por falecer...
Nunca cheguei a perceber se a "minha" primeira reanimação tinha sido um sucesso ou não...»
sábado, novembro 25, 2006
Novo dia, nova urgência...
O Sr. António Gomes (nome fíciticio) veio triado de amarelo.
Entrou acompanhado pela esposa.
Vinha enviado do C.S. por dispneia e prostração.
Tinha tido alta há 2 semanas de um serviço de Medicina por infecção urinária complicada. Estava medicado desde há 1 semana por recorrência da infecção urinária com ciprofloxacina. Tinha estado na urgência há 3 dias por 'dor no pénis' (sic). Vinha hoje à urgência por dificuldade respirátoria e prostração.
AP: acamado e epiléptico.
Ah, e a mulher insistia que ele tinha vómitos 'raiados de sangue' (sic).
(-Raiados de sangue Sr. Dra., não se esqueça, raiados de sangue!! -a mim só me vinha à memória os indíviduos que vão à internet, nomeadamente, aos sites de saúde brasileiros rebuscar frases pomposas para agravar (e adulterar) um estado de doença...)
(Que belo dia de sábado para se fazer urgência, pensava eu..)
Pedi rotinas, Rx tórax, multistixx. Fiz gasimetria. Não fosse o diabo têce-las, pedi Rx abdomén simples.
Fiz medicação endovenosa para os vómitos.
Quis enviar o doente para a sala da oxigenoterapia, mas o colega mais velho encarregue pela sala disse que o quadro clínico não era suficiente para levá-lo para sala de recuperação (este broncoespasmo não é suficiente? quase rosnei....). A gasimetria de facto assim o confirmou. O rx tórax também foi incaracterístico (dei-me por vencida....)
Entretanto, a esposa veio perguntar (quase ordenar) se o marido não poderia ficar internado connosco:
-Já viu o que é ter de cuidar de um homem destes, assim neste estado....! Olhe para isto... Assim não dá! Não pode ficar internado?
(Desta vez rosnei mesmo.... Adoro quando os familiares começam a dar palpites sobre a nossa actuação e quando esses palpites são com intuito de se livrarem dos próprios familiares.... Respirei fundo, apelei a minha paciência...)
-Quem se casou com ele foi a Sra, não eu!... Só as análises e os outros exames é que dirão o que fazer.
Multistixx fortemente positivo para proteinúria e hematúria. Continuava prostrado. E eu continuava a não gostava daquela clínica.
Decidi consultar um médico mais velho para me ajudar a convencer o colega da sala de recuperação a aceitar o doente. O meu colega aceitou o desafio mas a resposta final não tardou: NÃO!
Decidi mudar de estratégia. Aspirar secreções. Aguardar calmamente análises.
Entrentanto, o movimento da urgência abrandou e tive a infeliz ideia de olhar para os rx's novamente:
Rx tórax, mal executado, mas limpo concerteza.
Rx abdómem simples... com uma distensão cólica marcadíssima.... (raios partam....chamei um cirurgião porreirinho que também lá estava de plantão para ver a imagem...):
-MMmm.....Sem dúvida que isto tem muito ar cá dentro. Tem evacuado? Sim. Palpação dolorosa? Sim, no hipogastro. MMMmmm, olha pede também o Rx abdómem tangencial para ver se tem NHA....
Entretanto, quando o colega da sala de recuperação foi finalmente almoçar, decidi optar por outra abordagem: falar com a nova colega que o substituia.
Queria sentar-me e discutir aquele doente de uma ponta a outra como um bom internista deve fazer. Mas a resposta da colega foi prontíssima:
-Não, agora não. Estou sozinha aqui e no S.O. Estou aflitíssima... (e de facto estava...)
Bem, voltei à táctica inicial. Aguardar a chegada das rotinas....
Chegaram. Eureka! O doente tinha uma hiponatrémia de 115 mEq/m, o que obrigava a reposição imediata de solutos e portanto, uma estadia (longa) na sala de recuperação....
Batalha ganha. Por vezes, a persistência tem frutos.
quinta-feira, novembro 23, 2006
A poupança da gasimetria
Isto a propósito de, há uns tempos atrás, enquanto eu via a minha panóplia de doentes diários, ter visto uma aluna de medicina, em estágio no meu singelo hospital, unidade de carácter não-universitário, a iniciar-se nessa prática quase mágica para qualquer candidato a médico.
Como estava na mesma sala que a futura colega, não me inibi de observa-lá, discreta e atentamente (NÃO faças aos outros o que não gostas que te façam a ti -já vinha nos mandamentos. Sempre detestei que muitos olhos se focassem nas minhas técnicas: para além da pressão acrescida, ficava taquicardizada e ruborizada, e não sei por que diabos corriam sempre menos bem...
Nunca me esqueço e, perdoem-me a oportunidade, de, no meu último estágio do meu último ano de faculdade, o meu tutor ter-me dito para fazer (mais) uma paracentese diagnóstica. Desta vez era um doente com uma ascite discreta e, enquanto eu sagradamente confirmava o material disposto no tabuleiro, o meu tutor decidiu chamar todos os coleguinhas mais novos que estavam a estagiar naquele serviço para aprenderem como é que se fazia uma paracentese... Qual rebanho, qual pastor....Só me aptecia picar os neurónios do autor daquela bela ideia! Vá lá, até correu bem.... ,
mas continuando o post....). Observava-a de soslaio:
Vi-a tentar uma vez. E não conseguiu.
perguntei se ela precisava de ajuda, e ela disse que não, que já tinha sido ensinada no seu hospital universitário (que faz toda a diferença, claro está...)
Mudou de seringa, e tentou outra vez. Nada.
fingi que não vi para não a atrapalhar.
Mudou de punho, mudou de seringa e voltou a picar. Nada.
desta vez, sem conseguir ficar indiferente, disse que não se preocupasse porque nem sempre se acerta à primeira, que há pulsos filiformes e artérias tortuosas que acrescem um grau de difuldade à punção, eo blah blah blah do costume. Ofereci-me para fazer a punção, prosposta que ela rejeitou... Limitei-me a dizer que não era necessário inutilizar de imediato as seringas vazias ao qual ela ripostou, que entupiam e que dificultava... Não respondi.
Mudou de seringa. Picou. Não acertou.
Desta vez e, terminada a observação dos doentes que tinha para ver, eu deixei a sala...
Num época em que se fala cada vez mais em economia (aliás, SÓ se fala em economia!), em gestão hospitalar e como evitar o desperdício, fiquei a pensar....
Fiquei a pensar quantas seringas ela teria inutilmente inutilizado...
Fiquei a pensar no custo de cada seringa.... (que confessando a minha ignorância (e a dela, pelos vistos) também eu não sabia...)
Fiquei a pensar que, uma das formas possíveis de reduzir o gasto e o desperdício hospitalar, seria de, nas requisições de análises clínicas, imagiologia, electrocardiografia, constar o preço de cada exame a requisitar.
Isso far-nos-ia parar e pensar. Só se poupa quando se sabe o custo e quando esse custo, pode interferir com o nosso bolso.
quarta-feira, novembro 22, 2006
terça-feira, novembro 21, 2006
Mapa de vagas finalmente publicado...
Por 2 motivos:
1. Eu tinha 6 vagas preferidas.....dessas retiraram1, sobraram 5.
2. Como se não bastasse, das referidas 6 (agora 5) vagas, tiraram a minha primeirissíma opção, o hospital da minha preferência...
Há dias assim...
Continuamos à espera Sr. Ministro!!!
segunda-feira, novembro 20, 2006
Prioridades do Governo

Não aceito.
Preciso que me expliquem como se eu fosse uma criança de 4 anos.
Ou como se eu fosse muito burra.
Compreendo e aceito que, em alturas de crise, se impõe o fecho da braguilha. Percebo perfeitamente.
O que o meu cérebro asnático não consegue imaginar é o motivo pela qual o novo estádio do C.S.Marítimo consta da lista das prioridades orçamentais elaborada pelo presidente do executivo madeirense.
Repito: o novo estádio do C.S.Marítimo!!
Como madeirense e maritimista (já nem falo como médica…) sinto-me revoltada como esta decisão solípede e trauliteira.
Ainda por cima, como defensora acérrima habitué da política do Alberto João Jardim.
Mas, e o novo estádio da C.S.Marítimo? Que benefício é que nos traz, perante o cenário de restrições orçamentais que se perspectivam para os próximos anos?
domingo, novembro 19, 2006
Novo dia, nova urgência... (já perdi a conta)
A um canto, os enfermeiros riam e combinavam a hora de mudança de turnos;
No outro lado da sala, os médicos: os internistas, sem fichas para ver, actualizavam as notícias do dia e bebiam café a prever as longas horas de espera; os cirurgiões comentavam as novidades do último congresso de laparascopia avançada.
Num movimento errático, os auxiliares de acção médica faziam o burburinho de fundo.
10h30m - A pasmaceira é interrompida pelo som estridente da campaínha da reanimação. Um toque. É para a medicina.
10h30m 05 seg -um homem obeso, aparentando quarenta anos, de fácies oligofrénico, um braço picado, é trazido pelos bombeiros em estado estuporoso.
10h30m 29 seg - Não responde. Respira ruídosamente.
10h 30m 55 seg -Oxigênio a alto débito. Acesso venoso. Monitorização electrocardiográfica.
10h 32m 01 seg -Tem pulso. Taquicardia sinusal. Monitorizar restantes sinais vitais.
10h 32m 34 seg - Naloxona ev.
10h 33m -falar com o familiar: "subitamente sentiu-se mal, vómitou e entrou em coma. Tudo muito rápido. Só tivemos tempo para chamar o 112" (sic).
10h 36m 05 seg -Pdiastólica de 135 mmHg.
10h 36m 06seg -Adalat sublingual. Rápido.
10h 39m 15 seg - Requisições para colheita de análises e TC-CE. Gasimetrias e Rx tórax quando possível. O doente desce já.
...
TC-CE: hemorragia extensa do tronco cerebral.
...
S.O.: começa com febre ~39ºc refratária aos antipiréticos. Agravamento da depressão respiratória. Aprofundamento do coma. O.N.R.
sábado, novembro 18, 2006
A resposta do CNMI (mãos à obra!)
quando todos julgamos que já isto tudo bateu bem no fundo, eis que o MS nos mostra um abismo por detrás dos abismos já criados no passado recente!
Fantástica a lição de responsabilidade e de exemplo estatal que nos é dada por este executivo! Mostram bem que os jovens médicos estão bem colocados na lista de prioridades deste executivo.
Se tivéssemos feito uma providência cautelar, uma vigília em frente ao MS ou conseguido aquele furo jornalístico será que tudo isto tinha sucedido? Claro que não!
O prémio da compreensão sem limites, da paciência é exactamente este: um total desrespeito e gozação!!!
O que nos propomos fazer:
Responder ao Provedor de Justiça com este belo exemplo e apelar que este se coloque, para variar, do lado do cidadão que impotente assiste a um total desgoverno daqueles a quem paga os salários pelos seus impostos.
Estudar a possibilidade de colocar em tribunal o Ministério da Saúde.
Tentar, uma vez mais, sensibilizar a comunicação social para mais este insólito MS.
Para este último objectivo precisamos de mais ideias que possam despertar o interesse dos media, uma vez que nas páginas que dão conta da incompetência da máquina do estado já não há espaço!
Proponho que os colegas, inspirados no recém exame Harrison e socorridos da classificação internacional de doenças nos façam chegar uma lista de diagnósticos clínicos que possam ser usados como chamariz para as notícias a publicar; já agora todas as propostas terapêuticas são bem vindas! (medicointerno@gmail.com)
Ao que apuramos o senhor ministro estava na Turquia (regressaria à noite a Lisboa) mas como as comadres andam zangadas, desde o último episódio formidável da suspensão do mapa de vagas, e talvez com o intuito de precipitar mais uma crise, das muitas do MS, decidiram vingar-se nos jovens médicos e vai daí não há vagas para os rapazes!
Cabe-nos a todos provar que escolheram mal os adversários para esta luta...»
sexta-feira, novembro 17, 2006
Vergonha Sr ministro, vergonha!
Aquando da (infeliz) revogação do mapa de vagas anterior foi estabelecido o dia 17 de Novembro como prazo-limite para a publicação do novo mapa de vagas.
Hoje é 17 de Novembro, sexta-feira.
Vagas? Essas, nem vê-las.
Será que já nem se respeitam os prazos-limites para os concursos para a função pública em Portugal, neste país dito civilizado e que há uns anos atrás competia para entrar no pelotão da frente da Europa??
Vergonha.
O rídiculo chegou a este ponto:
Excerto de contacto telefónico:
09h10: "A D. Ana Nascimento ainda não chegou".
09h30: "A D. Ana Nascimento ainda não chegou".
09h40:
eu: Bom dia, o meu nome é .... e sou Interno do Ano Comum. Gostaria de saber se está previsto para hoje a publicação do mapa de vagas para o Concurso do Internato Médico de 2006?
AN: O mapa de vagas? Hoje? Acho que não.
eu: Trata-se do mapa de vagas que irá substituir aquele que foi revogado pelo ministro da saúde.
AN: O sr. ministro não revogou o mapa de vagas, foi o sr. secretário-geral.
eu: mas cumprindo um despacho do ministro.
AN: ah, pois. Mas no despacho do sr. ministro não há referência à nova data de saída das vagas.
eu: Mas eu estou a ver no site da secretaria-geral essa informação, ou seja que sairão a 17 de Novembro.
AN: No site?! Impossível!
eu: Tem um computador com internet consigo?
AN: Sim.
eu: Por favor vá até www.sg.min-saude.pt/IMRevogacao.asp
AN: Ah, pois, tem razão. Vou tentar informar-me sobre essa questão. Tente ligar na parte da tarde.
eu: Muito obrigado. Bom dia
AN: Bom dia.
Jeff Buckley faria hoje 40 anos
«Jeff Buckley, a voz além da tragédia, faria 40 anos hoje
Lauro Lisboa Garcia
|
Jeff Buckley faria 40 anos nesta sexta-feira.
De popularidade um tanto restrita, ele vem ganhando admiradores a cada ano, como todo bom mito do rock que morreu jovem.
O público em geral terá oportunidade de conhecer parte de sua história, provavelmente a mais dramática, quando o filme Mystery White Boy, há muito esperado pelos fãs (e criticado de antemão por alguns), chegar às telas. Baseado no que se sabe que Hollywood fez e faz com o componente trágico da vida de grandes ícones (Jim Morrison, Ray Charles, Johnny Cash), é de esperar que o filme não seja digno do arrebatamento musical do biografado.»
Porque ninguém que ser médico de família (quando for grande)?
Gabinete do Ministro
Despacho n.o 23 095/2006
A carência de médicos que se faz sentir na área da medicina geral
e familiar é notória e sentida pela população.
A reforma dos cuidados de saúde primários constitui uma prioridade
do Ministério da Saúde, pelo que se impõe, entre outras acções, que
o processo de admissão ao internato médico concorra para se atingirem
os ambiciosos objectivos que com aquela reforma se pretende alcançar.
O número de vagas de medicina geral e familiar que tem vindo
a ser disponibilizado para os internatos médicos, apesar do acréscimo
verificado nos últimos anos em resultado do esforço de articulação
desenvolvido pela Secretaria-Geral do Ministério da Saúde com as
diversas entidades que intervêm no processo, mantém-se abaixo do
necessário.
É, pois, imprescindível e inadiável reforçar significativamente o
número de vagas dessa especialidade.
Assim, determino:
1—Que se altere o mapa de vagas por área profissional de especialização
referente ao internato médico 2006, divulgado na página
da Internet da Secretaria-Geral do Ministério da Saúde, de forma
que o número de vagas de medicina geral e familiar corresponda
a 20% do total das vagas colocadas a concurso.
2—Que, para os internatos médicos que se iniciem a partir de
2007, o número de vagas de medicina geral e familiar corresponda
a um mínimo de 25% do total das vagas a colocar a concurso.
3—Que os avisos n.os 10 987/2006 e 10 988/2006, publicados no
Diário da República, 2.a série, n.o 195, de 10 de Outubro de 2006,
sejam alterados, de forma que se cumpra o disposto no número
anterior.
20 de Outubro de 2006.—O Ministro da Saúde, António Fernando
Correia de Campos.
Concordo em tudo o que o nosso Sr. ministro, CC, escreveu. Tudo, excepto, revogar um concurso já publicado oficialmente. É vergonhoso!
E concordo porque, não posso ser HIPÓCRITA, porque como já defendi, Portugal continua a ser o país da Europa com o maior rácio médicos/1000habitantes mas com uma péssima distribuição regional e/ou por especialidades, e é OBRIGATÓRIO canalizar médicos para as áreas carenciadas, neste caso MGF.
E continuando na linha de raciocínio da NÃO-HIPOCRISIA, admito que 99,9% dos jovens médicos de hoje NÃO estão interessados em seguir a carreira de médicos de família. Simplesmente não estão.
Porque? Mil razões poderia dar.
-A começar pelo próprio ministro que, se a memória não me atraiçoa, disse em linhas gerais, que se adoecesse nunca iria a um SAP (não sei a frase exacta, confesso).
-Por outro lado, os médicos hospitalares, verdadeitos senhores doutores de bata branca, muitas vezes descreditam e espancam verbalmente os colegas dos CS (e muitas vezes com a razão como aliada).
-Os próprios médicos de MGF são alvos de chacota-sef-made: colegas que limitam-se a encaminhar os doentes para outros colegas (fazendo lembrar os extintos polícias sinaleiros no meio de um cruzamento em hora de ponta), outros que ainda parecem verdadeiros 'João Semana's com a medicina do século XVIII (e sem qualquer intuito de actualização), alguns colegas que preferem ver os DIM a ver doentes (estes mais raros, felizmente), etc, etc.
-Os próprias faculdades de medicina que leccionam maioritariamente uma medicina hospitalar, com escassos dias de MFG (relembro o caso específico da Faculdade de Ciências Médicas da U.N.L, com uma cadeira de MGF exemplar e bem estruturada, mas que, fazendo bem as continhas, em 6 anos de curso são penas 60 dias de MGF...
Por mais ínsignias que tenha a cadeira, assim não se cativa ninguém, não é?)
-Para além destes motivos, o ISOLAMENTO, a ausência de verdadeiras URGÊNCIAS/EMERGÊNGIAS HOSPITALARES (e não estou a falar da unha encravada do 1º dedo do pé esquerdo) aliados a menores descargas de catecolaminhas (que todos nós dizemos mal, mas a verdade é que ninguém passa sem elas), a (suposta, sublinho SUPOSTA) MENOR REMUNERAÇÃO (e não me venham dizer que isso não é importante porque são tretas), são tudo factores co-adjuvantes para a não escolha da especialidade.
Mas a vida é assim.
Os que puderem safam-se, e escolhem outras especialidades (e serão elas realmente mais satisfatórias??).
Os que não puderem (leia-se, os que tiveram um choque anafilático ao Harrisson's), vão ter mesmo que enveredar por esse caminho.
Aprendam a gostar.
Por vezes há surpresas fantásticas.
E que as há, há.
Vão ver.
quinta-feira, novembro 16, 2006
amanha é o dia D
Amanhã é o dia D, mas devia ser o dia V, de vagas.
Amanhã é dia da publicação das 797 vagas de especialidade abertas ao internato médico 2006.
Nada de novo, não fosse a revogação-supresa das 797 vagas abertas apenas 7 dias após a sua publicação oficial.
Nada de novo, não fosse este um concurso público de admissão às especialidades de um país integrado na União Europeia.
Nada de novo, não já tivesse decorrido o exame de acesso à especialidade no 1º semestre deste ano e com os canditados completamente 'às cegas', sem qualquer tipo de orientação sobre quais e que vagas existiriam a concurso.
Nada de novo, no funcionalismo público deste país.
Nada de novo.
Haverá vagas novas?
Melhor filme publicitário anti-SIDA dos últimos 25 anos
Vale a pena ver e votar.
Mudar mentalidades.
Eu tenho o meu favorito. J'ai flirté avec toi -France
Achados & pérolas da nossa história
quarta-feira, novembro 15, 2006
E no resto do País?
Ordem dos Médicos obrigada a intervir |
Internos «tapam buracos» nas urgências |
"Depois dos tarefeiros, são os internos. Algumas administrações hospitalares estão a recorrer aos médicos em formação para colmatar a falta de especialistas nas urgências. Nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) o facto levou à intervenção da Ordem dos Médicos, que promete estar atenta a casos similares. O recurso a médicos indiferenciados pagos à hora, os chamados «tarefeiros», por parte de algumas administrações hospitalares, tem sido noticiado pelos meios de comunicação social generalistas. Mas esta não é a única solução adoptada pelas direcções para colmatar a falta de especialistas nos serviços de urgência. Alguns conselhos de administração estarão antes a recorrer a uma «fórmula» menos explosiva do ponto de vista mediático — a colocação de internos, com ou sem autonomia, na urgência geral." |
Será só nos H.U.C.???
Sudão
terça-feira, novembro 14, 2006
Antibióticos: Uso ou Abuso

Aproximadamente dois terços de todos os antibióticos de toma oral no mundo, são obtidos sem uma receita médica e inapropriadamente usados para combater doenças como a tuberculose, malária, pneumonia e outras infecções mais usuais das crianças. *
( *The Global Infectious Disease Threat and Its Implications for the United States - NIE 99-17D, January 2000 - John C. Gannon, Chairman, National Intelligence Council)
A prescrição excessiva de antibióticos por parte dos médicos e a venda ilegal de antibióticos sujeitos a receita médica por parte dos farmacêuticos estão na base deste problema. São inúmeras as pressões (e de várias direcções) para a prescrição macissa destes fármacos.
É urgente mentar mentalidades!
Nem sempre os antibióticos são o melhor remédio!!
Em vez de se pensar «Que chatice, estou doente e o médico nem receitou antibiótico», deve-se dizer: «Uff, estou doente e, graças a Deus, nem foi preciso antibiótico!».
Respito: É preciso mudar mentalidades.
Já.
segunda-feira, novembro 13, 2006
2º dia de SAV
2 teorias se confrontam na Medicina de Emergência: Stay and Play e Scoop and Run
Stay and Play: primeiro estabiliza-se o doente, presta-se os primeiros socorros, terapêuticas de infusão, entubação precoce e ventilação, de maneira a minimizar lesões orgão-alvo secundárias associadas ao choque.
Scoop and Run: sem tempo a perder, transporta-se rapidamente o doente sem tratamento primário para o hospital mais perto.

Tal como na vida.
Eis um artigo interessante sobre estas 2 teorias de emergência.
1º dia de S.A.V. (Suporte Avançado de Vida)
Mesmo muito exausta.
Não é fácil ser avaliada (e humilhada?) em frente aos mais novos e em frente aos mais velhos.
A teoria é uma coisa, mas a prática é outra....
Pensava que ia ser mais fácil.
Amanhã há mais.
Exaspero.
O livro que se segue -'O outro pé da sereia', de Mia Couto
domingo, novembro 12, 2006
quinta-feira, novembro 09, 2006
Porque Sócrates fechou a torneira...

www.marcamadeira.com
Carta de um director de serviço CONTRA a administração do SEU hospital
Um verdadeito achado entre a fauna hospitalar...
«LULAS MINHAS QUERIDAS MANAS
CEFALÓPODES E lobos
Na sexta-feira passada fui falar com o Presidente de Administração do H.A.L. a propósito de um engano que os novos horários para os médicos do Serviço de Estomatologia traziam.
Depois de desfeito o engano o que foi rápido, deu-me o Presidente a noticia de que ele me classificava não na classe dos mamíferos ordem dos primatas como seria de pensar (quem pensa com a cabeça claro) mas na classe dos peixes, ordem dos cefalópodes.
Como o nome indica cefalópodes (pés na cabeça) são os polvos, as lulas e os chocos e Eu também, pelo menos na perspectiva do Presidente, uma vez que segundo ele penso e escrevo com os pés.
Não direi que foi uma conversa cordata, não foi, o Presidente, penso eu, com os pés, excedeu-se tanto nos insultos como na gritaria.
(...) como diz o povo “vozes de burro não chegam ao céu”. Por isso mesmo pedi a demissão do cargo de director de serviço. (que foi aceite)
(...)
O que realmente está em causa é a sensação de que se está a paralisar o hospital, de que o futuro já está bem definido, mas que não há a coragem de o dizer. Em vez disso vamos tendo cortes a avulso, noticias nos jornais que levantam a ponta do véu mas que deixam para trás o essencial de modo que a especulação torna-se a única forma de tentarmos prever o que será o nosso futuro próximo.
(...)
E posso afirmar com toda a certeza, que a maioria das pessoas que trabalham no hospital pensam que o nosso futuro é do pior.
(...)
Ameaças não se fazem, não são demonstrações de bom carácter, ou se faz cumprir a lei OU NÃO SE FAZ.
(...)
Estou de consciência muito tranquila pois toda a minha actividade no hospital tem tido a preocupação desde o inicio de servir sobretudo quem mais sofre e não tem meios para recorrer a outro lado.
(...)
Nas minhas decisões que poderiam ser mais polémicas foram acautelados os princípios de ordem ética e deontológica. (...) O mesmo tenho a certeza não fez a administração.
POR ISSO CUMPRAM AS AMEAÇAS e veremos que pagará.
Senão gostam do que escrevo melhor, quem não quer ser lobo não lhe veste a pele.
Deste humilde choco
Vasco Rolo»
Extraído do blog Hospital Amato Lusitano
quarta-feira, novembro 08, 2006
Falta de médicos em Potugal? Mito ou Realidade?
De acordo com a World Heath Report 2006, as estatísticas dizem-nos que:
Portugal
Nurses (density per 1 000 population): 4.36
Dentists (density per 1 000 population): 0,55
Pharmacists (density per 1 000 population): 0.95
United Kingdom
Physicians (density per 1 000 population): 2.30
Nurses (density per 1 000 population): 12.12
Dentists (density per 1 000 population): 1.01
Pharmacists (density per 1 000 population): 051
Spain
Physicians (density per 1 000 population): 3,30
Nurses (density per 1 000 population): 7.68
Dentists (density per 1 000 population): 0,49
Pharmacists (density per 1 000 population):0,87
Germany
Physicians (density per 1 000 population): 3.37
Nurses (density per 1 000 population): 9,72
Dentists (density per 1 000 population): 0.78
Pharmacists (density per 1 000 population): 0.58
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, Portugal, em 2003, tinha um rácio de médicos/1000 habitantes de 3.42, rácio este superior à média da União Europeia (3,28 médicos/1000 habitantes).
Da mesma forma, tudo isto é confirmado pelos números lançados pela World Health Report 2006, em que o nosso rácio médicos/1000 habitantes é superior ao dos chamados países desenvolvidos como a Inglaterra, Alemanha, Espanha, Dinamarca, Holanda, Suécia e Itália, conforme ilustrado nos gráficos.
Adicionalmente, estes números não têm em conta o aumento da idade da reforma nem o afluxo e fixação de médicos vindos de outros países, nomeadamente médicos de Leste e da vizinha Espanha (conhecida já pelo seu excesso de pessoal na área da saúde), o que contribui para um aumento de número de médicos que não foram contabilizados nestes estudos.
Com a abertura de 'novas' faculdade e principalmente com o aumento do numerus clausus nas faculdades pré-existentes, Portugal já excede largamente as necessidades formativas de novos médicos.
A falta de médicos é, de facto, um mito, amplamente alimentado pelos media nacionais.
Há, sim, uma má distribuição dos médicos, quer em termos de especialidades, quer em termos de distribuição geográfica, mas isso são problemas colocados à saída da licenciatura e não à entrada, tendo como única solução NÃO um aumento do numerus
clausus para as faculdades de medicina, mas SIM uma canalização posterior para as especialidades carenciadas!
Caso contrário, limitamo-nos a aumentar o gap entre médicos formados e consequente má distribuição!!!
Não há falta de médicos!
Especialidades vs Super-especialidades
Com um post simples e didáctico, diferenciando os especialistas dos super-super-super-especialistas:
«Uma das coisas que sempre me fez alguma confusão é o conceito de superespecialidade.
Tendo desde muito cedo optado por seguir uma especialidade considerada por muitos como menor, é sempre com algum gozo que vejo alguns colegas de especialidades ditas "diferenciadas" a olhar-me de cima a baixo (o que no meu caso concreto é sempre dificil, e bem capaz de provocar lesões ao nível da coluna cervical dos ditos superespecialistas...) sempre que me aventuro discutir temas das suas áreas de conhecimento.
Adoro estas aves raras que pululam pelos nossos hospitais, observando (sempre muito enfadados...) os doentes que os míseros especialistas lhe pedem para observar (quando os observam...)
Claro que os há simpáticos e disponíveis, e que estes são, felizmente a imensa maioria, mas os superespecialistas são realmente os mais engraçados de todos.
Como se reconhece um superespecialista?
Bem, comecemos pelo principio.
Não é, obviamente, um cirurgião geral, um internista ou um clinico geral. Não!
A sua especialidade é sempre algo de muito avançado, na qual apenas entra um restrito grupo de predestinados com capacidades acima da média.
Claro que o superespecialista como predestinado que é, olha todos os outros não-superespecialistas com piedade, comiseração ou desdém.
O superespecialista duvida sempre do que os colegas lhe dizem. Porque na verdade só ele é que sabe. Só ele é que vê. Só ele é que ouve. Na realidade só ele é que compreende o doente.
Fantásticamente (ou não...) para o comum dos leigos, o superespecialista parece completamente inepto e desprovido de capacidades para comunicar com os doentes, mas...a realidade é que, como só o superespecialista sabe, o comum dos leigos nada percebe sobre nada e não devia sequer olhar para o superespecialista, sob pena de ficar cego com o brilho que naturalmente emana desse ser semi-divino.
Nunca há qualquer justificação para chamar um superespecialista de madrugada. Nunca há nada que seja suficientemente urgente, emergente ou premente que seja da sua área de especialidade (o que às vezes me leva a interrogar-me sobre qual a necessidade da permanência no serviço de urgência destes seres...mas eu sou um dos tais leigos e como tal devo reduzir-me à minha mísera insignificância...)
Ah!...e o facto de, tal como eu, ele também ser pago é completamente irrelevante. Porque na realidade nós (das especialidades rascas) é que devíamos pagar para podermos pisar o mesmo chão e respirar o mesmo ar que o superespecialista.
O superespecialista usa sempre gravata. Ele acha que só assim será respeitado. Eu acho que a compressão carotídea e consequente redução do fluxo sanguíneo cerebral explica muita coisa...
Agora digam-me...há paciência para os aturar???»
Entrevista a João Salgueiro no Público
PÚBLICO - Como analisa as conclusões do relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a banca nacional?