quarta-feira, novembro 08, 2006

Especialidades vs Super-especialidades

Hoje decidi homenagear um blog médico extinto desde há alguns dias para cá, o Interne-me.

Com um post simples e didáctico, diferenciando os especialistas dos super-super-super-especialistas:

«Uma das coisas que sempre me fez alguma confusão é o conceito de superespecialidade.
Tendo desde muito cedo optado por seguir uma especialidade considerada por muitos como menor, é sempre com algum gozo que vejo alguns colegas de especialidades ditas "diferenciadas" a olhar-me de cima a baixo (o que no meu caso concreto é sempre dificil, e bem capaz de provocar lesões ao nível da coluna cervical dos ditos superespecialistas...) sempre que me aventuro discutir temas das suas áreas de conhecimento.
Adoro estas aves raras que pululam pelos nossos hospitais, observando (sempre muito enfadados...) os doentes que os míseros especialistas lhe pedem para observar (quando os observam...)
Claro que os há simpáticos e disponíveis, e que estes são, felizmente a imensa maioria, mas os superespecialistas são realmente os mais engraçados de todos.

Como se reconhece um superespecialista?
Bem, comecemos pelo principio.
Não é, obviamente, um cirurgião geral, um internista ou um clinico geral. Não!
A sua especialidade é sempre algo de muito avançado, na qual apenas entra um restrito grupo de predestinados com capacidades acima da média.

Claro que o superespecialista como predestinado que é, olha todos os outros não-superespecialistas com piedade, comiseração ou desdém.
O superespecialista duvida sempre do que os colegas lhe dizem. Porque na verdade só ele é que sabe. Só ele é que vê. Só ele é que ouve. Na realidade só ele é que compreende o doente.
Fantásticamente (ou não...) para o comum dos leigos, o superespecialista parece completamente inepto e desprovido de capacidades para comunicar com os doentes, mas...a realidade é que, como só o superespecialista sabe, o comum dos leigos nada percebe sobre nada e não devia sequer olhar para o superespecialista, sob pena de ficar cego com o brilho que naturalmente emana desse ser semi-divino.
Nunca há qualquer justificação para chamar um superespecialista de madrugada. Nunca há nada que seja suficientemente urgente, emergente ou premente que seja da sua área de especialidade (o que às vezes me leva a interrogar-me sobre qual a necessidade da permanência no serviço de urgência destes seres...mas eu sou um dos tais leigos e como tal devo reduzir-me à minha mísera insignificância...)
Ah!...e o facto de, tal como eu, ele também ser pago é completamente irrelevante. Porque na realidade nós (das especialidades rascas) é que devíamos pagar para podermos pisar o mesmo chão e respirar o mesmo ar que o superespecialista.
O superespecialista usa sempre gravata. Ele acha que só assim será respeitado. Eu acho que a compressão carotídea e consequente redução do fluxo sanguíneo cerebral explica muita coisa...
Agora digam-me...há paciência para os aturar???»

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