domingo, fevereiro 04, 2007

Oh não! Mais um post sobre o aborto...

Ao vaguear pelos blogues do costume, encontrei um post que me fez párar para pensar, no blog do colega viciado em Ice Tea:

O post era este:

Vamos chamar-lhe Carla.
Carla tinha 17 anos. Estava em pleno 12º ano.
Namorava com António. António tinha também 17 anos e estava a frequentar o mesmo ano. Ele e Carla eram colegas de turma. Ambos eram alunos brilhantes... e tinham eleito o curso de Medicina como meta a atingir...

Namoravam desde os quinze anos. Aos dezasseis, por comum acordo, iniciaram a vida sexual. O amor era intenso...

António e Carla utilizavam preservativo. Carla não tinha possibilidades de tomar a pílula. Além de ser algo cara para o seu bolso de estudante de ensino secundário, a personalidade controladora e as atitudes conservadoras da mãe, e o medo de assumir a sua própria sexualidade perante esta impediam-na de o fazer.

A pílula do dia seguinte não tinha ainda sido lançada no País.

Nunca houve, durante a utilização do preservativo, qualquer "incidente" que levasse a suspeitar da sua falência enquanto método contraceptivo.

No entanto, oito dias antes do exame de Biologia desse ano (decisivo para a entrada em Medicina), Carla notou que o período estava em atraso. Comunicou o facto a António, mas não o valorizou, atribuindo-o ao stresse dos exames... Afinal de contas, ela era uma pessoa muito ansiosa..


Contudo, passados alguns dias (duas semanas antes do exame de Química, também decisivo), começou a notar náuseas e vómitos, cada vez mais fortes, cada vez mais intensos.
A dúvida no espírito de Carla era cada vez mais forte: "Será que estou grávida? Não, não é possível..."

Pelo sim pelo não, Carla foi à urgência mais próxima. A médica que a atendeu observou-a e pediu-lhe várias análise, entre as quais um diagnóstico imunológico de gravidez (DIG).

Quando veio o resultado, a médica chamou-a ao gabinete. A senhora está grávida - disse, com ar sério...
Carla ficou lívida de pânico. Mal conseguiu contornar as restantes perguntas colocadas pela clínica. Esta, talvez pressionada pela chefia da urgência a ver o máximo de doentes num mínimo de tempo, tamém não insistiu... Se aquela jovem parva não queria responder àquilo que ela lhe perguntava, tanto melhor... Menos tempo gastava na consulta...

Carla não sabia o que fazer. A garganta tinha-se transformado num nó de marinheiro. O coração, de repente transformado num batuque, não parava de acelerar, tal como os seus pensamentos. À cabeça veio-lhe toda a sua existência até à data.

Os seus sonhos, os seus projectos, a sua vida... Tudo ruía, naquele instante, sobre si própria.

Quando chegou a casa, o seu primeiro impulso foi ligar para António. A voz entaramelava-se, enquanto as lágrimas lhe escorriam dos olhos, quatro a quatro dos seus olhos castanhos, gigantes, que tanto fascinavam o namorado...
As palavras saíam, necessitando para tal de um esforço hercúleo:

-Sabes, António? Acho que estou grávida!
- O quê? - António estava incrédulo. - Estás a brincar comigo?
- Sim, António, acho que estou mesmo grávida. O período está em falta. Estou cheia de vómitos... E fiz um teste de gravidez que dá positivo!
António explodiu:
- A culpa é toda tua! Eu bem te disse para começares a fazer a pílula. Tu e os teus medos idiotas... Tens medo de tudo: que a tua mãe te descubra, que a pílula te faça mal... - a voz de António, ainda que pelo telefone, soava a um misto de negação com raiva.
- António, eu amo-te muito... - retorquia Carla, entre soluços...
- Eu também te amo... Mas a culpa é toda tua... E eu não quero um filho agora... Eu quero entrar para medicina, caraças!
- Eu também quero entrar para a faculdade... O que fazemos?
- Não sei! Não faço a mínima ideia...
- Eu também não!
Falaram ainda durante cerca de quinze minutos... António culpava Carla pelo sucedido, e, apesar de a amar, mostrava-se um tanto irredutível nessa culpabilização. Combinaram que António rumaria a casa de Carla assim que possível.Acabaram por desligar.

Entretanto, Carla não reparara que a mãe, vinda do emprego, tinha entrado em casa e, ouvindo o choro da filha, se tinha aproximado...

- Carla, filha, o que foi? Zangaste-te com o António?
Confrontada com o choro e com a aflição, Carla não teve outro remédio senão contar tudo à mãe. Tinha assumido a sua sexualidade da pior maneira.

A reacção da mãe de Carla foi, de início, de incredulidade: a sua filha, a sua pequenina, que tantas vezes lhe servira de apoio e de esperança nos momentos difíceis, estava a crescer, e de forma brusca.

A resposta foi ponderada.

- Carla, o que é que tu queres fazer?
-Não sei... a minha cabeça está um caos...
-Queres ter o filho ou não?
-Não sei... Não sei de nada...

Carla, meio surpresa, sentia o coração aos pulos. A figura da mãe revelava, ao fim de quase dezoito anos de convivência, contornos completamente diferentes daqueles a que estava habituada.Todo aquele desenrolar de acontecimentos tinha-se tornado imprevisível... Já antevia o casamento, à pressa, os comentários dos convivas, o sermão da sua avó. Via-se a trabalhar que nem uma moura, num supermercado, tão longe da profissão com que sempre sonhara... Via-se a deslocar-se de casa para o trabalho e do trabalho para casa, a chegar ao fim de semana exausta...Tudo por causa de uma gravidez que, de momento, não desejava...

Entretanto, chegou António. Vinha vermelho que nem um tomate, numa mescla de reacção ao sucedido com o efeito do calor tórrido do Verão, que se fazia sentir na altura. Cumprimentou a mãe de Carla.

Esta repetiu a questão que havia colocado a Carla:
- E agora, meninos, o que é que fazemos? Querem ter a criança ou não? - disse.
-Eu... não queria... - gaguejou António.
E tu, Carla?
- Eu também não...

A mãe de Carla não perdeu tempo: telefonou a uma colega de trabalho cuja filha tinha passado pelo mesmo. Fez outro telefonema, rápido: perguntou as características do local e informou-se do preço.

-Vocês os dois apanhem um táxi e vão a esta morada. É a de uma clínica que faz interrupções de gravidez. Eu vou ter convosco daqui a uma hora... tenho umas coisas a tratar.

No caminho, Carla, cada vez mais cheia de vómitos, ainda teve de ouvir os gritos de António, visivelmente irritado com toda a situação...

A clínica foi impecável. À entrada, Carla fez uma ecografia. Foi confirmada a gestação. Estava grávida de sete semanas.
Depois, após a chegada da mãe, esta assinou um termo de responsabilidade, e foi registado que Carla teria tido um aborto espontâneo.
O médico que a atendeu colocou-lhe uns comprimidos no colo do útero, tendo-lhe depois, sob anestesia geral, feito uma curetagem uterina.

Cerca de doze horas depois, Carla saía da clínica, meio atordoada da anestesia e com alguma hemorragia residual.

Passados sete dias, estava a fazer o exame de Biologia. Obteve notas de acesso altas.
Três meses depois, estava a inscrever-se no curso com o qual sempre sonhara.

Alguns meses depois, acabava a relação com António, que já se tornava um martírio em virtude das discussões constantes.
Durante alguns anos, os olhos de Carla marejavam-se de lágrimas quando via crianças. Pensava que o seu filho poderia ter aquela idade. Mas tudo passou.

Actualmente, Carla é uma cirurgiã pediátrica de sucesso. Está a fazer uma pós-graduação nos Estados Unidos, país no qual vive com o actual namorado. Planeia, em breve, assim que a profissão o permitir, ter dois ou três filhos com o "homem da sua vida".

Enquanto médica, já salvou centenas de vidas que foram colocadas nas suas mãos.

Fala desta fase da sua vida com o olhar conformado de quem já passou o suficiente. No entanto, confessa que, por vezes, não deixa de pensar no que seria a mesma com um filho que não desejava nos braços...



no berlogue do costume....

2 comentários:

Anónimo disse...

Só para ressaltar um aspecto...a decisão de abortar foi tomada em minutos! Fantástico! Sem comentários...acho um absurdo! Queria ser médica? Fosse! Já tinha idade p ter relações mas não p arcar com responsabilidades? Queria ser médica? O filho quereria ter uma mãe médica...

Anónimo disse...

que história ridicula! Uma futura médica não pode ter um filho antes mesmo de entrar para o curso? Que diferença faz? que hipocrisia...! nem se falou do problema monetário, às tantas não existia, ser estudante de Medicina é que deve ser incompativel com gravidez na adloescência, não o sabia!