quarta-feira, janeiro 10, 2007

Pó ao Contraste

Na 3ºfeira conheci a Sra Aurora, uma mulher de 54 anos, que vinha ao Serviço de Radiologia com indicação do urologista para realização de uma urografia endovenosa por suposta lítiase renal.
Vinha de longe e estava ansiosa com a (suposta) realização do exame.
Já cá tinha sido enviada anteriormente com o mesmo motivo, mas foi detectada uma história de antecedentes alérgicos, pelo que o radiologista decidiu não foi realizar o exame.

Ontem apareceu de novo.
Desta vez trazia consigo uma carta assinada pelo urologista negando a existência qualquer tipo de alergias, exigindo a realização da urografia. Falei novamente com a doente e ela insistiu numa história de alergia ao pó e ao pêlo de gatos...

Convém relembrar que as guidelines europeias em relação às reacções adversas aos meios de contraste mudaram nos últimos anos e, se 'ontem' a culpa era do médico requisitante (neste caso, o urologista), 'hoje', a culpa é sempre do médico que aplicou o meio contrastado (ou seja, o radiologista).

Neste caso, com o factor adjuvante de poder ser feita uma TC não contrastada com os mesmos (aliás, melhores) resultados que a urografia para o caso em questão e sem qualquer tipo de risco para o doente. O urologista não aceitou. Queria mesmo uma urografia.

Por um lado, eu (e o meu colega) eramos apenas internos da especialidade. Não podemos ir contra um pedido de um especialista.
Por outro lado, qualquer tipo de reacção adversa, precoce ou tardia, a culpa seria nossa.

O que fazer?

Falou-se com o médico mais velho presente no serviço naquela manhã (também ele a contas com um processo no tribunal pelos mesmos motivos).
Ele olhou para a requisição, pensou uns minutos e, frazindo o sobrolho, disse:
-«Poderíamos marcar uma consulta de anestesia para a doente. Seria o mais correcto do ponto vista teórico, mas impracticável na prática.
Só há uma única alternativa.
Pré-mediquem o doente com corticóides e antihistamínicos. Re-marquem o doente para daqui a 3 dias. Avancem com a urografia. O urologista quer, vai tê-la...»

6 comentários:

Peliteiro disse...

E a doente?

Gasel disse...

São precisos 3 dias?

J.F disse...

Meus amigos...
Onde está o diálogo inter-profissional(especialidades,digo)?
Foi explicada a situação à doente?
O que o urologista pertendia?
Baseados na "evidência" os radiologistas explicaram o problema à doente?
E que disse ela?
Bom...

edelweiss disse...

A doente foi para casa fazer profilaxia com antihistamínicos e corticoesteróides (a fazer 24h e no dia do exame).

Sim, foi explicado à doente o que se passava.

A consulta de anestesia era impraticável pois os horários e salas disponíveis não coincidiriam. Ou seja, quando os colegas de anestesia agendassem o procedimento com a doente seria após as consultas já programadas de anestesia, provavelmente ao final da manhã, e nessa altura não teríamos a sala de exames especiais imagiológicos disponíveis.

O diálogo inter-especialidades foi tentado inicialmente, mas os colegas limitaram-se a insistir na U.E. (excluindo a hipótese TC) e a secundarizar os antecedentes alérgicos da doente...

Anónimo disse...

Bom...
Haja bom senso.
Não se surpreenda, se lhe acontecer de realizar uma urografia a um doente sem historial de alergias e que já tenha efectuado mais que uma urografia e ele faça reacção alergica grave, gravissima.

...

A doente diz ser alergica ao pó, que po? Especificou!!! Apresentou exames comprovativos?

Eu sou alergico ao pêlo de gato, caspa de cão, no entanto nunca fiz reacção alergica a qualquer tipo de medicamento até á data.

Anónimo disse...

No fim quem se lixa é o mexilhão